quinta-feira, 24 de março de 2011

Abdelhamid Aouad quer criar o seu próprio negócio para ultrapassar a crise

Regional
Abdelhamid Aouad quer criar o seu próprio negócio para ultrapassar a crise



O marroquino encara o futuro com confiança no empreendedorismo e nas suas capacidades de comerciante. Considera o Algarve a sua «casa», onde quer abrir uma loja de artesanato.

TEMAS: Imigrantes de Sucesso

Abdelhamid Aouad tem 55 anos e está em Portugal há quase metade da sua vida. Afirma prontamente que o seu país «é Portugal» e «também Marrocos». O luso-marroquino é intérprete e tradutor de árabe para português. Mas a crise também lhe bateu à porta e quer agora desenvolver o seu próprio negócio. O tradutor quer ser comerciante e afirmou que «negociar era a única forma de viver antigamente para os árabes».

Espera a decisão do Instituto de Formação Profissional para «juntar o fundo de desemprego e criar um negócio dedicado à venda de artesanato em Portimão».

Para desenvolver este projeto, conta com a ajuda da sua mulher, que, entretanto, «está já inscrita numa escola para adquirir mais formação».

Caso «o projeto corra bem», o tradutor quer «expandir o negócio a outros concelhos do Algarve», ficando a mulher «encarregue da loja e do negócio em Portimão».

Abdelhamid nasceu em Oujda, junto à fronteira da Argélia. Mudou-se para Casablanca aos 13 anos, com os seus pais e cinco irmãos. Acabou por abandonar a escola, pois «não tinha dinheiro».

Nessa altura, ficou em casa «a ajudar a mãe nas tarefas». Anos mais tarde, trabalhou numa fábrica artesanal «onde era alfaiate». Foi nessa altura que aperfeiçoou o conhecimento das línguas.

«Sair de Marrocos é muito difícil». A embaixada portuguesa «não dá o visto com facilidade, mesmo a artistas ou artesãos que queiram vir expor ou atuar em festivais e feiras».

Por isso, sublinhou Abdelhamid Aouad, «nunca vou dizer como consegui entrar em Portugal». Quando cá chegou, «no tempo do Presidente Ramalho Eanes, em 1983, não tinha documentos», mas ainda assim Abdelhamid diz que foi «bem tratado».

«Decorava palavras portuguesas parecidas ou iguais ao árabe» e assim «ia aprendendo». Das parecenças linguísticas, o intérprete referiu que «antigamente já se dizia», em Marrocos, «a palavra tanga, que significa mentira».

Por enquanto, vai fazendo «traduções, para entidades públicas do Algarve, como tribunais ou o consulado».

«Ainda há trabalho como tradutor porque há muitos processos de clandestinidade e de tráfico de droga», disse Abdelhamid Aouad, assegurando que é sempre chamado para casos do Barlavento algarvio.

Antes, com o trabalho de tradutor, «chegava a ganhar à letra», mas «o Estado agora paga mal», confessou o luso-marroquino ao «barlavento». «Qualquer dia, a clandestinidade passa a crime punido com prisão» pois «há muitos gastos com esses processos, na tradução, na diplomacia, na alimentação, na extradição, no tribunal», revelou o intérprete.

«Gosto de estar no Algarve», confessou Abdelhamid, adiantando que «agora os tempos estão difíceis» e «é preciso olhar para o futuro». «Tenho um filho com oito meses, que preciso de cuidar, e por isso quero ter um negócio de artesanato, o meu próprio negócio», concluiu.

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